O que você acha da minha ideia de indicar algum som que curto em cada postagem do Cotidiano Cego?

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Cadê O Direito À Leitura?

Faaaaaaaaala galera!

Infelizmente tenho que voltar ao blog para divulgar mais um absurdo.

Existe uma luta pelo livro acessível, onde um dos cegos mais ativos nela se chama Naziberto Lopes.

Vou colar abaixo um texto dele explicando melhor o que acontece.

Se o texto chegou até a mim, suponho que a intenção dele é divulgar.

Se não for, já era. rsrsrs.

Brincadeiras à parte, observem bem o absurdo ao qual nós cegos ainda temos que nos submeter para tentar comprar um livro e ler.

Após o texto vão meus comentários.

Amigos, bom dia.

Não era esperado, mas inacreditavelmente aconteceu. As editoras Cia das Letras, Contexto e Grupo Gem, recorreram da sentença do Tribunal de Justiça de São Paulo,
contra o meu direito de poder adquirir quaisquer livros dessas 3 editoras no formato digital acessível pagando pelos mesmos, eu disse pagando pelos mesmos!!! É inacreditável.
O meu advogado quando soube ficou pasmo porque é algo surreal levarem essa pendenga para as supremas cortes, ou seja, a luta para evitar que uma pessoa possa comprar
e pagar um livro.

Elas recorreram não apenas para o STF, mas também para o STJ, ou seja, as duas cortes supremas do país.

A alegação delas é mais surreal ainda, a de que o meu direito de ler um livro comprado e pago junto a elas é inconstitucional! Uma pessoa cega poder ler o livro
que quiser no Brasil é inconstitucional!

Agora serão mais R$ 2500,00 de custas de advogado aqui em São Paulo, mais o pagamento de um advogado que terá que ser contratado em Brasília para defender oralmente
a questão no dia do julgamento, que deve ser para daqui mais uns 2 ou 3 anos e mais as custas do processo, que todos sabem, cartórios, idas e vindas aos fóruns,
etc.

Somando a brincadeira vou acabar gastando mais de 6 mil Reais para poder tentar garantir um direito fundamental para qualquer pessoa, para qualquer ser humano, ou
seja, o direito a leitura. É brincadeira ou querem mais?

E isso ainda correndo o risco de chegar lá em cima e perder tudo, e dai ter que pagar os advogados contrários e coisa e tal. realmente é coisa de louco, eu louco
por continuar insistindo e a loucura maior que é a verdadeira prisão em que as pessoas cegas desse país estão sujeitas.

E me perguntariam o seguinte: Não teria sido muito mais fácil submeter-se a regra geral, ou seja, ajoelhar-me diante da Fundação Dorina e implorar por algum livrinho
que eles tenham em estoque ou que eles queiram preparar para mim? Sim, eu responderia, seria muito mais fácil, cômodo e tranquilo se eu tivesse me comportado assim
há 3 anos atrás quando fui até a editora contexto e solicitei a compra de um livro. Na época eles me disseram qual era a regra que eu deveria seguir para conseguir
aquele livro.

O problema meus caros colegas, é que eu tenho amor próprio, vergonha na cara, orgulho, me considero gente, ser humano e não bicho, fantoche, boneco, marionete.

Se eu tivesse aceito as regras do jogo, que aliás são históricas no Brasil, eu teria que chegar em casa e jogar tudo isso na lata de lixo, e isso eu não vou fazer
jamais.

Até porque não acredito que existam latões de lixo suficientes que comportem mais uma moral, mais um ser destruído pela humilhação e pela discriminação, porque são
tantos cegos jogados neles por todos esses anos que não acredito que exista mais espaço para ninguém.

p.s.: Mas uma coisa boa é a seguinte: O recurso não tem efeito suspensivo, quer dizer, até o julgamento final eu posso continuar comprando os livros que quiser nessas
3 editoras, eles estão sujeitos a decisão do Tribunal de SP e isso o recurso não anula.

É isso.

Abs.

Naziberto Lopes


Como o próprio Naziberto citou no início de seu texto, isso é inacreditável.

a tecnologia está aí, várias lojas já vendem livro digital, pois várias editoras já produzem e essas 3 editoras, através de uma atitude retrógrada, tenta retirar o direito à leitura que deveria existir para todos.

Eu só me pergunto:

Não teria condições de arcar com os custos de tal luta, já que essas 3 editoras recorreram da decisão, assim como a maior parte dos cegos no Brasil. Isso significa então a derrota plena?

Há anos somos reféns da Fundação Dorina, antiga Fundação Para O livro Do Cego No Brasil, em tudo que diz respeito à livros.

só podíamos ler os livros os quais a referida instituição achava que deveríamos ler e se interessasse em preparar.

Hoje, a tecnologia nos dá a faca e o queijo na mão para mudarmos isso.

Mesmo assim, 3 editoras tentam impedir uma pessoa cega de comprar seus livros... Gente..... Estamos falando em comprar.

E o pior:

Se ainda houvesse um custo maior de produção para os tais, ainda se justificaria. Um exemplo claro disso, se o nosso amigo estivesse exigindo livros em braille.

O custo de produção é maior, volume da obra também, não haveria lucro, etc..

Agora, ele reivindica podermos comprar os livros em formato digital. Só para lembrar, os livros atualmente já são digitalizados antes de sua impressão.

Isso mesmo.... O que precisamos para ter acessibilidade e podermos ler o livro que quisermos, pagando por ele, é justamente de um procedimento o qual as editoras já fazem.

Quanto ao direito de comprarmos qualquer livro e lermos ser inconstitucional, sinceramente, gostaria de saber qual embasamento tais editoras tem para esta alegação absurda.

Ops. será que eu deveria usar essa, ou esta, nessa frase?

Ou será que eu deveria ter dito nesta frase?

Sempre me confundo com isso.... Alguém me explica? rs.

Até hoje não consegui entender..... rs.

Em fim: Vocês entenderam... Ou, pelo menos, espero. rs.

Só me resta, no meio de tamanha indignação, agradecer ao Naziberto pela disposição e pela luta que beneficiará, não só a ele, como a todos nós e, tentar passar força para que continue.

Afinal, com certeza, há momentos nos quais ele deve ser tomado por desânimo, pois é humano!

Força cara! Venceremos essa luta.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

O Resgate Da Bengala



Faaaaaaaaala galera!

antes de contar a história do resgate da bengala, vou indicar uma música que me emocionou na primeira vez que escutei, e emociona até hoje.

Alguns de vocês viram a reportagem para o programa Mais Você, mostrando o meu cotidiano, o trabalho, etc.. Mas, apenas os leitores que convivem comigo sabem da minha trajetória até aqui.

Em 1998, terminei meu curso técnico em Processamento De Dados. No entanto, entre terminar o curso e começar a carreira profissional, existe uma grande diferença.

Me vi desempregado e sem perspectiva.

Em 2000, uma luz começa a acender. Olha. Era uma luz acessível.... Até eu que sou cego vi. rsrs.

Consegui um estágio no Serpro.

Ali, comecei a adquirir uma maior independência pessoal, com relação à locomoção e também outros aspectos, além de a partir daí, conhecer pessoas e poder também, ter uma experiência para adicionar ao meu currículo.

Só que esse estágio, assim como qualquer outro, acabou.

Retornei então à mesma situação profissional de antes. Lógico. A experiência de vida que adquiri eu nunca perdi, não perderei e ela tem certa responsabilidade em eu ser quem sou hoje.

Desempregado, vivendo de biscate.... bom.. em São Paulo chama bico... Mas, sou carioca... Tudo bem que biscate em São Paulo é outra coisa, mas não é o caso. kkk.

As vezes aparecia algum contrato como instrutor de Informática onde dava pra tirar uma grana. Mas, acabava o curso e com ele, o contrato e aí já era.

Me virava fazendo serviços particulares de montagem e manutenção de micro e aulas de Informática.

Mas, quem trabalha de forma autônoma nessa área, sabe como é.

Quando tem serviço, tem dinheiro. Quando não tem..... Rs.

As vezes, mal conseguia para a cerveja do fim de semana. outras, nem isso.

Os anos se passavam, a incerteza continuava e isso me frustrava. Afinal, lutei tanto para poder conseguir ter a profissão que queria.

Não desisti.

Continuava me atualizando como podia. Varei madrugadas para aproveitar o pulso único, na época de conexão discada, que era entre 0 e 6 da manhã.

Mas todo o conhecimento até então era aplicado nos serviços particulares e também, para ajudar a galera com dificuldade em fóruns, listas de discussão.

Decidi depois estudar o sistema operacional Linux. Na época, todo o material de acessibilidade nesse sistema era em inglês. Não conhecia praticamente nada do idioma e o pouco que aprendi foi na raça.

Era uma janela com o texto e outro com um dicionário abertas simultaneamente.

Só depois, devido a um contrato legal para um curso consegui cursar um ano de inglês, a nível de conversação. Curso inclusive indicado pela coordenadora após entrevista em inglês.

Durante todo esse tempo, fui participando de vários processos seletivos. Quem acompanha meu blog sabe como as empresas encaram os candidatos à vagas que tem alguma deficiência. Encaram como cotistas e não como profissionais e as vezes, fazem o processo por fazer.

Quando reclamo da lei de cotas e da forma na qual tudo acontece na prática, é por já ter sentido tudo isso na pele.

Até que a atitude despretensiosa de ajudar a galera na Internet gerou frutos em 2007.

Recebi uma proposta para trabalhar em uma associação, dando suporte técnico à tecnologias assistivas. Nesse caso específico, dava suporte a alguns programas de leitura e de ampliação de tela, tanto para computadores, como para celulares. Foi nessa altura que mudei para São Paulo.

Trabalhei lá durante um ano e dez meses, até que passei no concurso público da CET e aí iniciou-se a parte da história a qual vocês já conhecem.

Por isso quase chorei quando ouvi essa música pela primeira vez.

Antes de postar o link, tomo a liberdade de usar o refrão desta canção, com o privilégio de ser uma prova viva de que é a mais plena verdade a mensagem passada por ela, para dizer a todos que estão sem perspectiva, seja profissionalmente ou em qualquer campo da vida, o seguinte:
"Ergue essa cabeça, mete o pé e vai na fé; Manda essa tristeza embora.
Basta acreditar, um novo dia vai raiar; Sua hora vai chegar."

Com certeza chega, gente. Segue o link:

agora vou contar sobre o resgate da bengala.

Quinta passada, saía para o almoço com uma galera do trabalho, como sempre.

Eis que um dos amigos, na saída do elevador, tropeça na minha bengala e ela inacreditavelmente vai direto dentro do fosso.

Sim gente... Ele jogou minha bengala lá, mas é meu amigo..... Foi acidente. kkkkk.

Recebemos a informação de que seria necessário abrir um chamado para que a empresa prestadora do serviço de manutenção dos elevadores pudesse retirá-la de lá.

E para minha total sorte, isso aconteceu justamente em um momento em que eu estava desprovido de bengala reserva..... Imaginem.

Cego sem bengala.... Bom. Será? Nesse caso, eu poderia me considerar duplamente cego? kkkkk.

Fomos almoçar, enquanto eu pensava no que fazer sem bengala.

O personagem da história, parecia mais desesperado que eu. Rs.

Ele quase chorando dizia:

"To com vazamento em casa, aluguel atrasado, pagando pedreiro e agora eu ainda consigo jogar uma bengala no fosso."

Kkkkkk.
 Apesar do desespero, não podia deixar de me unir à galera pra zoar ele. rsrsrs.

Começamos a inflacionar o valor da bengala pra deixar ele mais nervoso ainda, além de outras coisas. . rs.

Como não sabia se a bengala seria retirada no mesmo dia e, caso fosse, não tinha certeza sobre o estado no qual ela viria, liguei na loja a fim de comprar outra.

Alô. Vocês tem bengala de 1,35 CM?

Só terça...

 Imediatamente, cheguei à seguinte conclusão:

Agora fodeu! kkkkkk.

No período da tarde, precisava ir ao Sindicato entregar um documento. Sem bengala... Imaginem. rs.

Fui de carona com um amigo. No caminho, lembrei da loja existente na associação onde trabalhei. Isso. Aquela citada anteriormente.

A bengala deles é um pouco diferente. É de alumínio. A usada por mim é feita com fibra de carbono.

Mas, naquela altura..... rsrsrs.

Liguei.

Alô. Vocês tem bengala de 1,35 CM?

Sim, tem.

Opa. To indo buscar.

Fui, comprei e, no caminho de volta, recebo uma ligação aqui do trabalho informando sobre o sucesso no resgate da bengala, para alívio do meu amigo que tropeçou e também o meu.

Agora tenho bengala reserva, já que a titular saiu intacta do fosso.

Essa história me fez concluir o seguinte:

Se a minha bengala conseguiu passar num vão onde todos jurávamos ser impossível e ir parar no fosso, então, ela é boa de buraco!

Isso... Minha bengala é boa de buraco!

kkkkkkkkkkk.